11 julho 2007

Someday you will find me caught beneath the landslide...

A palavra da moda é "democratização". Mais um daqueles neologismos práticos herdados da era tucana. O problema é que mal se sabe o que é democracia, quanto mais como "democratizar". Para sanar tal problema de compreensão lógica, eis como o capitalismo moderno interpreta tal conceito:
  • Democratizar é ter um Oi, ouvir a Oi FM e, depois de passar um comercial informando mais uma das funcionalidades interativas daquela emissora - a possibilidade de retirar uma música da programação enviando simplesmente uma mensagem de texto (paga) com a palavra ODEIO -, imediatamente começar a execução da versão de Ana Carolina para "The Blower's Daughter";
  • Democratizar é ouvir uma versão de uma música num filme hollywoodiano, buscar sua origem na internet - acessada em banda larga - e descobrir se tratar de um clássico de Louis Armstrong. E na ânsia de ouvir big bands, comprar uma coletânea de Cab Calloway a um módico preço na Desafinado, pesquisar mais sobre o assunto e descobrir que um dos maiores expoentes do estilo musical é Count Basie, justamente o jazzista que deu nome a um dos projetos musicais que você mais anda ouvindo nos últimos dias: Count Basic;
  • Democratizar é trazer o Burger King para Fortaleza com uma campanha de marketing exibida no fundo dos ônibus que circulam na capital exibindo a foto de um Whopper com a mensagem "McAdeus!";
  • Democratizar é tornar o povo escravo do consumismo numa busca incessante pela melhora das condições econômicas do país.

É... Esse último tópico se encaixa bem no momento. É porque diferentemente de outros panoramas anteriores, este ano de 2007, no que diz respeito à felicidade imposta pelo consumismo sustentável, está sendo mais imbatível do que 2004!

Este ano já foi possível trocar meu antigo celular por um modelo de última geração, adquiri meu iPod Vídeo 30 Gb, comprei meu primeiro notebook e o auge de tudo isso aconteceu hoje, mesmo que não tenha sido por meio da realização de mais um ímpeto consumista, mas pela primeira vez na vida fui a uma concessionária pesquisar as formas de comprar um veículo 0 km.

Quem sabe dentro de uns dois meses eu tenha um carro novinho? Agora tenho um carro novinho! É até interessante, já que um dos meus maiores passatempos tem sido ficar em casa olhando pela janela, tendo no campo visual a imagem do meu carro estacionado na garagem. Pelo menos agora o visual é mais bonito, e enquanto pago as prestações do financiamento, essa conduta justificaria a falta de condições para sair e farrear a noite inteira.

É isso, democratização não tem nada a ver com democracia, mas sim com capitalismo, ou seja, garantir que o povo humilde cada vez mais tenha condições de consumir mais e mais. Ridículo, mas as aparências não enganam.